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Sistematização
dos Grupos de Prática

1.1 Relato pessoal

Ser sistematizadora, ser sister.

Eu sou Míghian Danae e fui professora de crianças pequenas desde 1996, quando estava no segundo ano de magistério. Comecei trabalhando com educação infantil em Salvador (BA) e até 2017, com algumas interrupções e outros trabalhos ligados à educação, estive trabalhando nesta etapa de educação básica. Nestes quase 15 anos de educação infantil, o tema das relações raciais passou a ter uma grande importância ainda nos primeiros anos, quando percebi que havia muitas pessoas negras, crianças e professoras, na educação infantil. Esta percepção orientou os interesses de pesquisa que desenvolvi ao longo da trajetória profissional que estou trilhando e me fez chegar até aqui como sistematizadora das ideias, reflexões e trocas promovidas nos encontros entre as organizações parceiras da Porticus. Hoje, sou professora na Universidade da Integração da Lusofonia Afro-Brasileira. 

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Gosto de brincar com palavras dentro da minha cabeça. Ouço uma e já penso quais conexões consigo fazer com elas, quais sentidos elas podem ganhar para mim. Quando pensei em sistematizadora, a sinapse que fiz me lembrou sister, uma palavra em inglês que significa irmã. O convite para sistematizar ideias relacionadas ao tema da primeira infância e da equidade acontece para mim porque acho que, há muito tempo, estas temáticas se tornaram minhas irmãs, companheiras de caminhada que escolhi trilhar na vida profissional. Todas as vezes em que precisei analisar uma situação, seja como professora, formadora ou teórica, a primeira infância e a equidade surgiam para me lembrar “o que uma criança pequena faria ou pensaria sobre isso?” ou, ainda, “você acha que esta situação, a equidade está sendo levada em consideração?”

Gosto de brincar com palavras dentro da minha cabeça. Ouço uma e já penso quais conexões consigo fazer com elas, quais sentidos elas podem ganhar para mim. Quando pensei em sistematizadora, a sinapse que fiz me lembrou sister, uma palavra em inglês que significa irmã. O convite para sistematizar ideias relacionadas ao tema da primeira infância e da equidade acontece para mim porque acho que, há muito tempo, estas temáticas se tornaram minhas irmãs, companheiras de caminhada que escolhi trilhar na vida profissional. Todas as vezes em que precisei analisar uma situação, seja como professora, formadora ou teórica, a primeira infância e a equidade surgiam para me lembrar “o que uma criança pequena faria ou pensaria sobre isso?” ou, ainda, “você acha que esta situação, a equidade está sendo levada em consideração?”

Participar desta construção coletiva renovou meus sentidos para enxergar as possibilidades presentes no trabalho das organizações que lidam com o tema da primeira infância que, ao incorporar a equidade como um princípio em todos os momentos das ações, dá sequência a uma luta iniciada por movimentos sociais organizados brasileiros. Sabemos o quanto o movimento negro foi e é fundamental para que a educação brasileira espelhe a contribuição da população negra e sua participação na formação de nossa sociedade; estar presente para organizar estas reflexões me faz pensar na força que há neste momento, que congrega pessoas que estão na batalha de fazer com que as crianças e a educação do país sejam vistas, ouvidas e consideradas.

Esta ação de sistematização, ainda, fez-me pensar o quanto é urgente este canal de diálogo entre organizações que tratam da primeira infância, para fortalecermos uma agenda comum e criar estratégias de trabalho coletivo que consigam incluir ainda mais as dimensões presentes no cotidiano das crianças, a saber, raça/etnia, classe, gênero, idade e origem, entre outras. Aprender é preciso, viver é preciso, porque o presente é precioso e “quem sabe faz a hora, não espera acontecer”[1].

[1] Trecho da música “Para não dizer que não falei das flores”, de Geraldo Vandré (1979).

1 Rio Papagaio, na Terra Indígena Tirecatinga. Foto Thiago Foresti_OPAN..jpg

1.2 Sistematização do Grupo de Prática

Introdução

Para construirmos uma educação de qualidade no Brasil, qual seja, uma educação que se pretenda inclusiva e democrática, é importante compreendermos que a equidade é parte fundamental desta empreitada; quando pensamos em primeira infância, torna-se ainda mais urgente incluirmos a equidade como um princípio, visto que as crianças pequenas, ainda que sejam pessoas, continuam a ser um dos grupos que menos decidem em nossa sociedade. Com a intenção de discutir estes assuntos, um grupo de organizações da sociedade civil – Ação Educativa, Centro de Estudos das Relações do Trabalho e das Desigualdades (CEERT), Instituto Amma Psique & Negritude, Instituto para Valorização da Educação e da Pesquisa no Estado de São Paulo (IVEPESP), Núcleo Ciência pela Infância (NCPI), LEPES/Avançar  se reuniram virtualmente durante algumas tardes no mês de agosto de 2022 para apresentarem suas atividades relacionadas à primeira infância que realizaram/estão realizando, buscando refletir sobre como a equidade tem surgido e quais os desafios presentes na elaboração/execução destas ações.

A Ação Educativa apresentou a pesquisa em andamento para a criação dos Indicadores da qualidade na educação

infantil – relações raciais na escola, com o desafio da articulação/combinação dos Indicadores da Qualidade na Educação Infantil (2009) e os Indicadores Relações Raciais na Escola (2013) já produzidos pela ONG. Para a organização, a igualdade racial na educação é um dos eixos estruturantes da qualidade em educação infantil. Os Indicadores trabalham com a metodologia de autoavaliação escolar, que reúne indicadores educacionais qualitativos concebidos para que toda comunidade avalie a realidade em que está inserida; nesta proposição, a ideia é que as instituições educativas tenham alternativas às avaliações de larga escala instituições educativas avaliações institucional modelos de larga escala, envolvendo a participação das comunidades e a captação de desafios referentes às desigualdades educacionais, insumos e práticas pedagógicas.

O CEERT apresentou algumas práticas reunidas sobre a temática Educação Racial na Educação Básica, que foram: 1. Edital de pesquisas em equidade racial na educação básica; 2. Anansi – Observatório de Equidade Racial na Educação Básica; 3. Prêmio Educar para a Equidade Racial na Educação Básica e 4. Tecnologia de Gestão da Educação com Equidade Racial. Cada uma destas práticas tem alguma incidência na primeira infância, à medida que busca transformar os espaços educativos em espaços mais equânimes para todas as crianças, seja a partir do incentivo e divulgação de pesquisas aplicadas nas áreas de primeira infância e equidade, na premiação de artigos e práticas que levem em consideração à educação das relações étnico-raciais e no acompanhamento e colaboração com o trabalho da gestão escolar no que tange à equidade racial, entre outras. 

O Instituto Amma Psique & Negritude apresentou o projeto de pesquisa intitulado Relações Étnico Raciais e Primeira Infância, realizado com um grupo de organizações da sociedade civil de várias partes do Brasil, que visa disputar as narrativas que estão sendo produzidas sobre as infâncias no cenário social brasileiro a partir da produção de pesquisas aplicadas pelas organizações. Dentro do projeto, está previsto um conjunto de ações como formação, seminários (privados e público), debates entre pesquisadoras/es das organizações participantes e pesquisadoras/es externos, que buscam mobilizar e subsidiar movimentos sociais, elaboradores/as e executores/as de políticas públicas e pesquisadores e profissionais. A intenção é produzir conhecimentos e recomendações relacionadas à primeira infância e relações étnico-raciais e comunicá-los à sociedade civil.

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O IVEPESP apresentou o Programa ACT, apresentou um programa intitulado Parentalidade positiva e prevenção de violência contra criança que busca a proteção a prevenção da violência contra as crianças. O ACT é um programa que promove encontros que buscam ensinar às famílias e/ou cuidadoras/es a educar as crianças em ambientes emocionalmente acolhedores. Atualmente, o programa está sendo implementado em 24 municípios do estado do Ceará. No âmbito da pesquisa, existe um estímulo à diversidade na amostra (etnia/raça cor de pele; regiões, cuidadores, níveis socioeconômicos, contexto e ideia)

O NCPI apresentou o Prêmio Ciência pela Primeira Infância. A 1ª edição do prêmio está acontecendo em 2022 e busca identificar e reconhecer pesquisadoras/es que tenham realizado pesquisas com foco em primeira infância, buscando promover a disseminação das pesquisas que foram desenvolvidas a partir em três eixos temáticos: 1) Infâncias plurais do Brasil; 2) Desigualdades e primeira infância e 3) Avaliação de políticas públicas em primeira infância. Vale dizer que esta premiação adotou critérios de priorização baseados na raça/cor do pesquisador e região do país.

De modo intencional, reunimos estas organizações pois nosso propósito era saber em que medidas as práticas escolhidas para serem compartilhadas nestes encontros nos contavam sobre a promoção da equidade étnico-racial

no campo da primeira infância, para a partir da troca entre as organizações descobrimos juntas quais são as questões que devem ser objeto de reflexão

e atuação de outras organizações da sociedade civil. Nas próximas páginas, apresentaremos as principais reflexões realizadas nestes momentos de encontro a partir de duas questões que orientaram nossas trocas:

  1. O que queremos estimular e recomendar para as organizações que atuam no campo da primeira infância e da Educação para  a promoção da equidade étnico-racial? 

  2. O que não é mais uma prática aceitável para as organizações que atuam no campo da primeira infância e da educação considerando a promoção da equidade étnico-racial? 

Estas perguntas surgiram da certeza do quão urgente é que as organizações que estudam, pesquisam e produzem conhecimento sobre primeira infância no Brasil – e que também comunicam este tema para a sociedade civil – tenham em seus programas de trabalho a educação das relações étnico-raciais como base teórica para a longa caminhada que temos de enfrentar rumo a uma educação de qualidade sem racismo.

Nossas reflexões levaram em consideração o quanto é indispensável que o debate sobre a educação das relações étnico-raciais esteja presente em tudo aquilo que as organizações fazem quando pensam em primeira infância. Esta certeza existe porque, se entendemos que é apenas pensando a diferença que conseguiremos alcançar todas as crianças brasileiras, precisamos incluir em nossas ações perspectivas que nos apontem uma educação pluriversal[2] (NOGUERA, 2012), que nos ajudem a construir um largo caminho de possibilidades para olhar para as crianças e, não apenas isso, encontrá-las e com elas organizar ações em sociedade que ecoem o exercício de uma educação com equidade.

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[2] Para saber mais: NOGUERA, Renato. Denegrindo a educação: um ensaio filosófico para uma pedagogia da pluriversalidade. Revista Sul-Americana De Filosofia E Educação (RESAFE), (18), 62–73. https://doi.org/10.26512/resafe.v0i18.4523.

O que precisamos para oferecer uma educação de qualidade para as crianças desde a primeira infância?

Não é possível viver uma primeira infância plena se o racismo é uma realidade na vida das crianças, negras ou brancas. Essa certeza, confirmada por estudos que demonstram o quão tóxico o racismo é para as crianças desde que elas são muito pequenas, nos faz refletir o quanto e como precisamos trabalhar, no campo da educação, para assegurar que a experiência de ser criança possa ser integralmente vivida em tempos e espaços em que o racismo não esteja presente. Fazer acontecer a equidade na educação desde a primeira infância é a possibilidade que vemos como aquela que mais pode trazer segurança necessária para que as interações educativas possam ser mais bem aproveitadas pelas crianças.

Os diálogos no grupo nos fizeram lembrar que a educação é um processo amplo e diz respeito a uma dimensão social que está além da escola; chegamos à conclusão que nos educarmos para pensar em como tornar a equidade presente em nossas vidas e nas vidas das crianças 

é parte deste processo educativo que vai sendo gestado dentro e fora

da escola, desde que nascemos. Ter essa certeza nos faz refletir que

as estratégias para educar com equidade podem começar muito antes de as crianças frequentarem as instituições educativas e podem estar presentes em ações conjuntas a outras demandas sociais, como saúde 

e uso do espaço público, por exemplo.

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As ações desenvolvidas pelas organizações aqui apresentadas apontam para uma compreensão de que a primeira infância é um tempo social que não deve ser desconsiderado quando pensamos em repactuar pontos importantes numa agenda de trabalho que busca promover justiça social; ver, ouvir e sentir a criança pequena e/ou muito pequena é condição fundamental para que a tão propalada equidade aconteça. É importante reforçar também que, quando aqui falamos de equidade, ela diz respeito não apenas ao tema da raça, mas também aos temas de gênero, idade, origem e deficiência, por exemplo.

Com esta mirada, conseguimos compreender o quanto é importante que o trabalho das organizações da sociedade civil escute este campo de estudos, sob pena de, sem o fazê-lo, continuar a reproduzir modelos de trabalho e pesquisa que reforçarão estereótipos sobre a primeira infância brasileira, de modo determinado, sem levar em conta os diversos contextos sociais em que as crianças –

e as pessoas responsáveis por elas! – estão mergulhadas. Levar em conta os contextos parece não ser mais algo tão novo – afinal,

as organizações se movem em nosso território a partir deles, mas a proposta que emerge das trocas nestas tardes de agosto nos fez refletir se, ao levar em conta os contextos sociais brasileiros, temos nos disponibilizado a alterar o próprio desenho das nossas ações. Alterar o desenho das nossas ações tem a ver com, muitas vezes, mudar estruturalmente aquilo que pensamos em organizar junto aos grupos com os quais estamos trabalhando, pesquisando, fazendo parte.

Como fazer? O que fazer?

A partir das trocas, algo que marcou nossa experiência coletiva foi perceber o quanto é necessário olharmos para dentro das organizações. Se queremos pensar equidade e o trabalho com a primeira infância, pareceu-nos que uma das primeiras tarefas –

de cunho educativo, porque é uma ação que indica letramento racial, diga-se de passagem – é perceber como os grupos raciais

e de gênero estão representados em nosso grupo de trabalho. Onde estão? Quem são? O que fazem? Suas opiniões são levadas

em consideração e seu lugar dentro do grupo tem poder de, para além de propor novas rotas, alterar caminhos, escolher saídas,

criar e testar estratégias?

A composição de um grupo de trabalho diverso e equânime dentro da nossa organização – levando em conta aspectos de raça, origem, gênero, idade e deficiência – é um passo importante para aprendermos a ver o campo da primeira infância como um lugar onde não há um caminho determinado, um lugar seguro e sem tensões nem disputa, como a ideia de infância universal insiste em anunciar. Com

a inclusão da perspectiva da equidade, o caminho que se apresenta não está pronto; o que fica é a certeza do convite para o trabalho coletivo, compartilhado com todas as pessoas – e isso inclui as crianças, com certeza! – que fazem parte do processo educativo em ação. 

Para além da assunção da necessidade de olharmos para dentro, parte das reflexões convergiram para pensarmos como comunicamos nossas pesquisas e o nosso trabalho e como estes produtos alcançam as pessoas. A divulgação do trabalho que fazemos é algo vital àquilo que desejamos realizar, pois, quanto mais pessoas tiverem acesso ao conhecimento por nós produzido, mais poderemos incidir sobre a educação das crianças pequenas, seja aquela que ocorre dentro da escola, seja fora dela. Chegamos

a um ponto alto desta discussão quando paramos para pensar se o que desejamos comunicar com nossos achados de pesquisa ou nosso trabalho tem de fato colaborado para a construção de uma sociedade mais equânime ou apenas tem reforçado estereótipos sobre alguns grupos raciais, de gênero e origem no Brasil. Além disso, como comunicar ou falar sobre temas em que se percebe que os resultados podem ser manipulados e não colaborem para aquilo que nos é de mais caro, qual seja, a participação equânime das crianças e a justiça social, não se efetive?

Como fazer? O que fazer?

O cuidado com a comunicação, que deve estar presente naquilo que publicamos, no que informamos a partir das escolhas dos grupos partícipes e em como eles são incluídos também pode levar em consideração aspectos da equidade. Esta ação reverberará na forma como vemos a infância em nossas ações mais específicas, colaborando para a construção de uma educação em consonância com um ideal solidário de sociedade democrática.

1.3 Recomendações para uma educação com equidade desde a primeira infância

Após as reflexões apresentadas neste texto, sentimos ser importante discutir o que de fato queremos estimular ao incluirmos a equidade em nossas práticas e o que recomendamos para as organizações que atuam no campo 

da primeira infância e da educação. Refletimos, ainda, sobre o que é que consideramos não ser mais uma prática aceitável em nossas ações.

As respostas das organizações presentes espelharam o debate produzido ao longo

dos encontros e estão abaixo indicadas:

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a) Incorporar concepções que acolham modos de ser e fazer de diferentes primeiras infâncias, superando a limitação no contexto psico e biológico e considerando também o contexto sócio-histórico.

b) Incorporar as questões étnico-raciais no portfólio das iniciativas de nossas organizações, ou seja, aprender como integrar estas questões para o desenho das iniciativas e não como algo que se possa acoplar ao final, nas análises que se pretende realizar;

c) Ter premissas escritas que incentivem o olhar para as questões raciais nas diversas iniciativas, seja de pesquisa, desenvolvimento de tecnologias sociais (inovação) ou avaliação de políticas públicas, para aprofundarmos um modo de fazer em que raça surja como categoria de análise dos produtos realizados, mas também como parte do desenho da ação;

d) Ter premissas escritas na organização sobre equidade racial para incentivar a diversidade racial na instituição e nas ações realizadas pela instituição, de modo a valorizar a equidade desde dentro em todas as escolhas realizadas, considerando as múltiplas inteligências/habilidades presentes na equipe;

e) Incorporar, em todas as etapas de pesquisas e projetos, a diversidade racial presente na sociedade e, quando a variável cor/raça/etnia, gênero e/ou classe for analisada como uma variável em dados desagregados, discuti-los com base em no(s) contextos(s) cultural(is) e socioeconômico(s) brasileiro(s);

f) Utilizar metodologias qualitativas para apoiar na compreensão dos dados quantitativos (modelos mistos), bem como estimular a criação de metodologias mais contextualizadas e com diferentes linguagens e adequando os instrumentos de mensuração às diferentes realidades, cuidando para que a pesquisa não reforce estereótipos;

g) Incluir, com diferentes linguagens nos materiais produzidos pela organização, referenciais teóricos que dialoguem com outras perspectivas que não apenas a eurocêntrica, para alargar a compreensão sobre os contextos sociais em que trabalhamos e nos apropriarmos de referências não-hegemônicas;

h) Buscar referências de pesquisadores/as que estudam a temática da equidade para apoiar na interpretação dos dados obtidos nas pesquisas realizadas, de modo a ampliar o escopo da análise dos materiais coletados, incluindo referências não hegemônicas também no formato, metodologia, desenho do público etc.;

Em relação às práticas consideradas inaceitáveis, as recomendações foram:

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2. É inaceitável a continuidade de referenciais hegemônicos e únicos, como branco/eurocêntrico, patriarcal, sexista, classista, dentre outros que excluem/minimizam as especificidades também do território, origem/nacionalidade, identidade/expressão de gênero, orientação afetivo-sexual, geração, deficiências, entre outras;

3. É inaceitável que a equidade seja adotada como incorporação transversal na centralidade e seja vista como uma ferramenta possível de equiparar os privilégios recebidos anteriormente por um determinado grupo no Brasil com os direitos defendidos para todas as pessoas;

4. É inaceitável ainda reproduzir a ideia de que as relações raciais, de gênero e de classe são apenas temas relacionados à qualidade na educação, mas sim a entranha ou raiz que estrutura as instituições, relações e subjetividades;

 

5. É inaceitável que grupos subalternizados estejam presentes nas diferentes instâncias dos projetos, pesquisas e instituições e não participem da análise de suas ações, pois isso reforça que estes grupos são apenas objeto de estudo e não são/ não devem ser considerados quando a ação/ trabalho for desenhado.

Com estas reflexões e recomendações compartilhadas, temos parte de um caminho delineado que, se trilhado coletivamente, poderá desembocar em práticas educativas que, além de terem a criança como centro, colaborarão para ações efetivas para que a equidade esteja em nosso ponto de partida e ponto de chegada, um porto seguro para as infâncias brasileiras. Há uma música que eu gosto imenso e, ao finalizar estas trocas, lembrei-me muito dela. Gonzaguinha escreveu uma letra que poderia ser transcrita inteira aqui. Deixo, apenas, uma pequena parte da canção que diz: “Vamos lá fazer o que será”. Somos nós a construir esse mundo e seremos nós que faremos o que precisa ser feito, para que as crianças brasileiras alcancem uma educação de qualidade sem racismo, com equidade.

Grupo de Prática 1:
Educação e a busca por equidade

Míghian Danae Ferreira Nunes

Avó e neta
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